sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O motivo, não explico, ido tu percebes.

Dói-me o corpo ao ponto de não to partilhar matilde.
Aos poucos parte de mim consome o que resta
o que arrasto correndo da maneira que tu também podes.

O tempo como te trouxe deu-me o resto também sem o pedir.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

III

Matilde estás sentada diante do televisor velho,
embalada pelos anos que carregas nos teus membros tão fracos,
acompanhada pela voz de quem resume um dia.

Estás perto, tão perto de mim que caindo o meu corpo torpe te apanharia.
Envolvem-te as cores - são tantas - do manto de lã que a minha mãe fez,
traças um vulto encorpado de memórias velhas,
justificas uma saudade que por pouco esqueci.

Moves-te , moves-te de súbito acrescentando um pormenor,
Cai-te o manto mas já não sentes o frio, sonhas
Preocupas-te com ele só com e ao despertar.

_____________________________"___________________________________

Porque nunca se desfez o que por tanto demos
Passadas mentiras, gritos, filhos, desilusões e loucuras,
egoismos feios e....tantas coisas um ao outro?

Antes e depois de ti quantas não se sentaram na poltrona?
P'ra quantas não olhei adormecidas com vontade de as despertar
com a fome que me dá de ver, querer e de sentir
e a mente dilúida numa loucura que tu me sabes ser própria?

Já nem sei, já nem sei matilde, o catálogo que era este que deixei na minha mente velha
Incapaz pelos anos de por nomes, corpos e actos em categorias
De sentir nos sentidos o que cada uma me deu.
"lembro-me da última da primeira não me vou esquecer!"
Disse-me uma vez o míudo que escrevia por mim inspirado
já sentido que de nada lhe servia enumerar e contar o que um dia fizera,
Talvez estivesse certo, é tão pouco o que importa e nos resta:
Onde estão as outras todas, as que percorri com os meus dedos agora incapazes de tudo?
Nem o meu nome assino certo como algúem que não sei me ensinou a escrever.
Nenhuma forma é como da última vez que a deixei, nem a tua matilde,
Por mais que me recorde de algo será só em mim que existem.

Detalhes, há detalhes que não esqueço como o roberto nos disse.
Extremidades que cobriam qualquer horizonte
Gestos que prendiam o olhar de quem sente o que vê e
acima de tudo por experiência
o que qesrutura um movimento que nunca nunca nunca nunca soube inocente
Matilde, matilde, sempre me conheceste e me deixaste ser assim
O que isso implicava era tão mais pequeno do que tudo o resto...

Passaram anos. Cansaste-te dia-a-dia ao ponto de te ires em cada um deles mais cedo,
e o teu corpo contigo sob o meu olhar mais ou menos atento.
Agora dormes onde muitas outras se sentaram com as cores que minha mãe deixou,
Vou pegar em ti como antes, embalar-te um pouco nunca te deixando cair.
Fui um para muitas fui um só para ti

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

II

MAtilde onde estão os nossos filhos que ao mundo entreguei?
Foram criados sob os meus princípios, aqueles a que te deste,
mas que por entre o betão se refractem tão tristes.
Demos, a cada um deles, de mão aberta o que não tive,
Tudo o que tu sempre assumiste como certo,
não queria que achasses que lhes dava menos do que merecias.
Cresceram e foram ensinados à luz de alguém que não via,
que não via matilde, um Deus à luz de reguadas ou de uma menina com mais de dois olhos
É deles a palavra de uma ciência superior à luz
do que com o meu suor e ignorância acumulei...
mas onde, onde estão os meus filhos?
Um cresceu, fez-se engenheiro por entre as paixões perdidas;
lembro-me do gosto com que desenhava uma casa
da forma como balançava ao som de uma música qualquer
Sempre achei que percebesse das artes que me impunhas
mas acabou por seguir os passos que foram guiados por nós.
Desde que se casou quantas vezes o vimos?
Nem o nosso neto senti nos meus braços
Tal como ele nunca o seu filho nos seus teve.
é tão triste matilde, é tão triste sabê-lo assim.
O que tem ele que o ligue ao mundo que puxe os seus pés à terra?
Vive no abstracto que promovemos, nos conceitos que nada de terreno têm,
Acredita que papel timbrado vale mais que o suor de um homem.
E ela, onde está ela agora que do mimo partiu?
Tivemo-la mais velhos mais cansados de tudo e esbanjámos
no seu egoismo o tempo que queriamos ter de volta.
Demos-lhe tudo, tudo matilde, até a vontade que teve de nos fugir.
Um monstro é feito de extremos, de nadas e de tudos, e nunca nada ela teve.
Onde está ela, onde está agora, onde?
O que chama por ela nos seus mommentos mais tristes?
o que a adormece quando o medo é excessivo e a falta de luz só para ele guia?
Afago agora a cama simples em que meu pai dormia.
Era pequno como há tempos se era e vivo como agora não se é.
Morreu comigo longe, como mais tarde minha mãe morreu.
Sorriam quando os viram sem qualquer movimento
só dessa forma fixara a vida.
Afagasse a cama simples como agora o faço
Tivesse sentido um último exalar feliz
um 'ultimo aperto de uma mão que a minha fome também calejou.
Fizessem o mesmo por mim.

I

Fui-me farto que estava do mundo
Das saudades que tinha de onde nasci
Ficaram as pedras as pessoas
Ruíram por entre o que ficou.

Não larguei nem um adeus gratuito
Não marchei como de antes co'a procissão
O senhor de preto não me acalmou
Por entre os gritos quem vivia para chorar

As minhas pernas não se esforçaram
Procurando cerejas para acompanhar o sol
Que agora não se punha por detrás
do outeiro da quinta dos figueiredos

Rendi-me a automatismos desumanos
ao esforço eléctrico sem o valor do sangue
a amor amizade e tristeza de tempo livre
e à terra que p'lo choro não foi regada

Fui-me farto que estava do mundo
Trouxe comigo as lágrimas que não dei.